Há muitos mitos que cercam o envelhecimento e um deles é o de que “voltamos a ser crianças”. Terapeuta esclarece o quanto essa abordagem é equivocada e menospreza a história de vida dos nossos idosos

Crianças são recipientes vazios. São preenchidos com histórias e acontecimentos ao longo de seus cursos de vida. Já os idosos são recipientes transbordantes de cultura, sentimentos e lembranças. Assim, pelo menos, que todos deveríamos enxergá-los na sociedade, na opinião da terapeuta ocupacional e administradora do Koru Centro-Dia, Marília Sanches.

Segundo ela, o que acontece, no entanto, é assistirmos muitos “filhos” tratarem seus “pais”, depois de uma certa idade, como crianças. Mas, reduzir os idosos à essa condição é desconsiderar toda a bagagem de vida deles. “Sempre é bom fazer o exercício de se colocar no lugar do outro: você gostaria de ser tratado como criança? De ter toda a sua trajetória ignorada ou até mesmo desconstruída? Certamente a sua resposta é ‘não’”, enfatiza.

Mudança

Marília questiona em qual sociedade você deseja viver? Na sociedade que reconhece sua identidade independente de sua idade e que lhe dá oportunidades ou na sociedade do século 19 que tratava de deixar o idoso nos seus aposentos, de pijama e chinelos, sem voz, nem independência ou autonomia?

Para vivermos a longevidade como um presente, a terapeuta diz que temos que ter em mente que idosos são ricos em experiências, conhecimento, histórias, êxitos e fracassos e que são recursos para a sociedade e para suas famílias. “Atualmente, por exemplo, é cada vez mais comum vermos idosos que sustentam filhos e netos, que cuidam dos netos enquanto seus filhos trabalham, que movimentam a economia. Então temos o dever cidadão de desmistificar a velhice, de aceita-la como parte de um processo natural da vida e de construir uma cultura gerontológica, de reconhecimento e respeito aos mais velhos, se quisermos envelhecer em um mundo mais amistoso e acolhedor”, aconselha.

A mudança começa, por exemplo, pela forma como as pessoas se referem aos centros que cuidam desses idosos. Ou seja, muitas pessoas ainda se chamam de “creches de idosos”. Um conceito totalmente errado na opinião de Marília. Além disso, que tipos de atividades oferecemos a essas pessoas para que elas não se sintam como crianças? “As atividades ofertadas aos idosos devem ser inclusivas, mas também, condizentes com as faixas etárias e respeitando seu tempo e suas limitações”, afirma a terapeuta.

Muitas vezes, de acordo com ela, observamos idosos serem tratados como sendo muito frágeis, doentes e dependentes. “Mas temos que pensar que ser idoso nada mais é que estar em uma fase da vida que tem desafios como todas as anteriores. Ao compreendermos as particularidades, conseguiremos olhar para a pessoa, independentemente de sua idade e condição de saúde e ofertar atividades que façam sentido e que respeitem a trajetória e o tempo de cada um”, aponta.

As atividades não precisam ser “especiais”, basta que façam sentido e se for o caso, adaptadas para proporcionar satisfação ao realiza-las. “Existem, por exemplo, inúmeros esportes adaptados para os idosos, no sentido de preservar articulações e minimizar alguma ação que exija um movimento mais difícil de realizar por conta do envelhecimento. É o respeito às limitações, mas valorizando a experiência’”, mostra.

Você sabia?

O envelhecimento é um fenômeno mundial. No Brasil, até 2025 teremos a sexta população idosa do planeta, com aproximadamente 32 milhões de pessoas acima de 60 anos.


Texto: Juliana Klein / Foto: ©RapidEye/iStock.com

Written by viverfazbem